O trabalho como gesto criativo

discutindo a ressocialização através do trabalho a partir da história das Colônias Agrícolas para Alienados no Brasil

Palavras-chave: Trabalho. Subjetivação. Saúde Mental. Colônias. Rio de Janeiro.

Resumo

Pretende-se neste texto tratar da problemática do trabalho no âmbito do cuidado em saúde mental nas Colônias Agrícolas para Alienados no Rio de Janeiro, de modo a confrontar o cerne dessa que é uma das questões que lhe deram a sua razão de ser. Assim, brevemente passaremos pelo contexto de criação dessas Colônias e seus desdobramentos em direção aos territórios da Ilha do Governador e de Jacarepaguá. Veremos como havia um discurso predominante que defendia que o trabalho (físico, braçal) nesses espaços, praticado pelos seus internos, teria um papel fundamental no processo de cura, a chamada praxiterapia. Contudo, podemos observar ao menos dois momentos da concepção das relações entre labor e terapêutica: inicialmente, a atividade produtiva era compreendida quase como um bem em si, não havendo grandes progressos no tocante à qualidade de vida extramuros dos internos. Posteriormente, veremos a abertura para um leque maior de possibilidades simbólicas concernentes à formação subjetiva desses sujeitos que passam a não mais se dedicar exclusivamente a serviços manuais e subalternizados, mas se engajam em atividades criativas e que deixam marcas em seu percurso.

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Biografia do Autor

Fernando Machado, Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Fernando Machado é doutorando no Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia.

Daniele Gomes, Docente de Filosofia, Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro

Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGE/UFRJ). Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho da Educação (GESTE). Mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2017). Graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2014). Atua como docente de Filosofia na Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro e também atuou como professora do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ) (2015-2016). Possui experiência em pesquisas e projetos educacionais em espaços não formais de ensino e também como Formadora Regional de professores e gestores do Programa Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Tem desenvolvido seus estudos nos seguintes temas: Filosofia, Filosofia da Educação, Ensino de Filosofia, Formação Docente, Formação Continuada, Estética, Alfabetização, Cinema, Artes e Processos de ensino-aprendizagem.

Arthur Ferreira, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Arthur Leal possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988), mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1999). Realizou pós-doutorado na UNED (Madrid) em 2010 sobre História da Psicologia e na Universidad Javeriana (Bogotá) em 2014 sobre Produção de Subjetividade, sendo apoiado pela CAPES nos dois pós-doutorados. É professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, participando dos programas de Pós-Graduação em Psicologia (UFRJ), Psicologia (UFF) e em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia (HCTE/UFRJ). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em História, Estudos CTS, atuando principalmente nos seguintes temas: história da psicologia, epistemologia da psicologia, produção de subjetividade, filosofia da psicologia e pragmatismo. Desde 2009 possui bolsa de produtividade junto ao CNPq e a partir de 2015 é Cientista do Nosso Estado. Atualmente compõe as diretorias do Instituto de Psicologia e da Sociedade Brasileira de História da Psicologia.

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Publicado
2023-12-31
Como Citar
Machado, F., Gomes, D., & Ferreira, A. (2023). O trabalho como gesto criativo . Revista Scientiarum Historia, 1(1), e423. https://doi.org/10.51919/revista_sh.v1i1.423
Seção
Ciência, Tecnologia e Sociedade